Reflexão do Evangelho (Lc 9,51-62)

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Ser livre para seguir a Jesus

O texto situa o exato momento em que Jesus toma a firme resolução de ir a Jerusalém. Inicia-se o “êxodo” de Jesus, cujo principal objetivo é educar seus discípulos, abrindo-lhes os olhos a respeito das condições e consequências do seu seguimento. No texto do domingo passado (9,18-24), os discípulos, por meio de Pedro, haviam declarado a Jesus que ele era o “Messias de Deus”. Não sabiam, porém, o verdadeiro significado dessas palavras. A concepção triunfalista de messianismo predominava em sua mente. Isso já ficou evidente pelo tipo de discussão que tiveram logo depois da confissão de Pedro: quem deles seria o maior? (cf. 9,46-48). Fica evidente também pela atitude de Tiago e João diante da hostilidade dos samaritanos. Estes são inimigos ferrenhos dos judeus. Certamente os dois mensageiros que Jesus havia enviado à sua frente deviam ter preparado os ânimos dos samaritanos. Mas parece que fracassaram. O que disseram e como fizeram? O fato é que sua missão não foi eficaz… Jesus repreende a Tiago e João e dirige-se para outro lugar (cf. Lc 9,51-56).
No caminho são descritas três espécies de vocações. Nelas os discípulos devem reconhecer-se. Em cada uma delas, Jesus define quais devem ser as verdadeiras atitudes dos seus seguidores e seguidoras. O texto é elaborado de tal modo que situa no centro um chamado feito diretamente por Jesus. A primeira e a terceira personagens desejam seguir a Jesus por iniciativa própria. As três são personagens sem nome e, portanto, representativas de todas as pessoas discípulas de Jesus. Lucas quer enfatizar as exigentes condições para o seguimento.
A primeira demonstra disposição incomum: “Eu te seguirei para onde quer que tu fores”. A expressão faz lembrar as palavras de Pedro um pouco antes de negar Jesus: “Senhor, estou pronto a ir contigo à prisão e à morte” (22,33). A resposta de Jesus à primeira personagem alerta para a necessidade de ruptura com as seguranças e confortos que impedem a prontidão permanente. As “tocas” e os “ninhos” estão ligados à acomodação do poder em suas instituições. Neste sentido, não é por acaso que Jesus vai chamar Herodes de “raposa” (13,32)…
A terceira personagem também se oferece espontaneamente para seguir a Jesus, com a condição de despedir-se primeiro do pessoal de sua casa. A expressão grega denota o sentido de desvencilhar-se de uma incumbência. A personagem demonstra indecisão, própria de quem tem dificuldades de desapegar-se dos seus negócios e de quem ainda está amarrado a laços afetivos prejudiciais à liberdade e à autonomia necessárias para responder ao chamado divino.
A personagem central é convidada por Jesus. Está, porém, ligada às tradições paternas. Jesus pede-lhe que deixe o passado para entrar na nova dinâmica do reino de Deus. Lembra a dificuldade manifestada pelos discípulos de desatrelar-se da ideologia judaica. Os três tipos de vocações sintetizam as atitudes que devem caracterizar o verdadeiro discipulado. A liberdade deve ser radical para que a opção pelo Reino seja feita com inteireza.

Celso Loraschi
Fonte: Revista Vida Pastoral

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As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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