Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.

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A mulher negra e o duplo processo de exclusão

Quando falamos em papéis sociais, nos deparamos com uma questão crucial, que são as relações de poder. Neste âmbito, percebe-se que ao longo da história a mulher esteve desfavorecida e julgada em condição de inferioridade em relação aos homens, não sendo assimilada como sujeito/pessoa a ascender socialmente, economicamente e politicamente. Este contexto foi sendo construído e sustentado, levando as pessoas do sexo feminino a tornarem-se parte de um gênero subordinado. Neste sentido, a exclusão da mulher nas diversas dimensões da sociedade foi sendo dada como natural.
Quando falamos da mulher negra, encontramos um duplo processo de exclusão, que passa não somente pelas questões de gênero, como também pelo preconceito e discriminação racial. “O preconceito e o racismo são atitudes e modos como se veem certos grupos sociais. Quando ocorre o preconceito racial, a pessoa enxerga nos outros, características que lhe desaprovam porque têm como parâmetro as características do grupo social em que está acomodada. O racismo também é uma atitude que, do olhar do racista, adota uma postura contrária a certas pessoas pelos seus traços físicos, levando em comparação o padrão do seu próprio grupo social. Já a discriminação racial é a manifestação dessas atitudes preconceituosas e racistas [1]”. Isto é, quando o preconceituoso ou racista expõe seus pensamentos e pode vir a prejudicar alguém, é que ocorre a discriminação.

Portanto, podemos dizer que para a mulher negra, o processo de enfrentamento é ainda maior, pois para vencer as desigualdades de gênero, dadas como barreiras naturais da sociedade enquanto feminino terá de vencer o preconceito, o racismo e a discriminação. Ao longo da história, a mulher negra no Brasil tem enfrentado a conjugação das questões de gênero e raciais. O modelo de produção capitalista adotado traz em si marcas do modelo escravagista que afetam diretamente as mulheres, já que perpetua desigualdade e exclusões em seus meios. Nas últimas décadas as mulheres têm se fortalecido e vem conquistando espaço em diversas esferas sociais. Atualmente são parte relevante da população economicamente ativa, sendo incorporadas ao seu desenvolvimento e reconhecimento outras formas de exploração, que diz respeito a um sistema acumulativo de funções.  Este fator se torna ainda mais complexo quando se trata de mulheres negras, que levam os reflexos de um sistema político  escravocrata.
De todo modo, a mulher vem percorrendo a história sendo exemplo de superação e perseverança. Cada conquista veio por meio de sua inteligência em argumentar e na demonstração de suas capacidades, mas claro, após muita luta. E esta ainda continua…
“Ao pensarmos a situação da mulher negra no Brasil atual, temos que levar em consideração  que em uma sociedade democrática, o respeito às diferenças de raça, etnia, gênero, orientação sexual, aparência física não é abandonar cada seguimento à sua própria sorte, mas questionar as relações de poder que hierarquizam as diferentes posições [2].
Artigo de Fernanda Soares
Fonte: Jornal da Pastoral da mulher – BH/MG
1- Artigo: A questão racial no Brasil e as relações de gênero: um estudo do reflexo das desigualdades sociais, politicas e econômicas no cotidiano da mulher negra – Fernanda da Silva Lima (UFSC), Louvani de Fátima Sebastião da Silva (UNESC)

2-Artigo: Mulheres negras: reflexões sobre identidade e resistência – Rosângela Rosa Praxedes.

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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