Especial Mês da Bíblia – A mulher hemorroíssa/ A filha de Jairo (Mt 9, 18-26)

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(paralelo em Mc 5,21-43; Lc 8, 40-56)

O primeiro detalhe que se percebe é que a história da mulher com hemorragia e a história da menina que acabara de falecer estão literalmente interligadas. Mateus conta as histórias de forma sucinta, excluindo  maiores detalhes e a participação dos discípulos no acontecimento.

Na história da mulher com hemorragia, que padecia durante doze anos, há uma relação direta, não intermediada nem impedida, ente ela e Jesus. Ela aparece sozinha, excluída da sociedade e da religião patriarcais. As duas histórias evidenciam as desigualdades e as semelhanças entre essas duas mulheres. Uma é empobrecida (veja Mc 5,26), a outra provavelmente pertence a uma família rica. Uma é menina e outra é adulta. Uma tem quem interceda por ela (o chefe ajoelha-se na frente de Jesus), a outra não (ela vem por detrás de Jesus e lhe toca a beira do manto). Ambas são mulheres. Ambas estão morrendo/mortas, fisicamente e sócio-religiosamente. E por isso ambas podem contaminar, se lermos o texto na perspectiva da impureza religiosa (Nm 19, 11-22; Lv 15,1-33).

A ação acolhedora e libertadora de Jesus é que vai unir essas histórias diferentes. Jesus não reprime a busca daquela mulher totalmente marginalizada e excluída. Ao contrário, agradando-se da sua tentativa baseada na fé e na esperança de cura ele fala: “Coragem Tua fé te salvou”. A fé dessa mulher passa a ser paradigma para a comunidade. Fé e graça que geram inconformidade, ousadia e ação persistente. A menina não pode, no momento mostrar sua fé. Seu pau a expressou confiantemente em seu pedido. Jesus nada fala para a menina. Mas seu toque é “fala-ação”.


A relação profunda e íntima, manifesta no toque, aparece nessas duas histórias, assim como já estava presente em Mt 8,14-15. O poder de Jesus é poder relacional. Às vezes ele busca, outras vezes é buscado.

Na narração de 9, 18-26  há algo que chama a atenção de forma especial,. Duas vezes o autor menciona a palavra “filha” (9, 18 e 9,22). Este é mais um elemento que entrelaça as duas histórias. Mas de forma qualitativamente diferente. Uma é caracterizada de “filha” dentro de uma família patriarcalmente estruturada. A outra é uma mulher que não tem vínculo com tal estrutura, e Jesus a chama de filha. Que significa isto? Jesus está criando um novo espaço de vida, uma nova possibilidade de vida dentro do espaço não hierarquicamente estruturado do Reino de Deus. Aqui também  as mulheres são chamadas para o discipulado. O Reino de Deus é feito de filhas e filhos que vivem seu discipulado como pessoas libertas e livres  de estruturas de dominação. Aí se faz a experiência de que o Pai  é de todos e de todas. O Pão em consequência é também para todas e todos. Não existe Reino sem Pai e sem Pão, isto é, sem experiência das Novas Relações… E estas são sempre inclusivas… Ninguém pode ficar de fora…

Vamos Rezar este texto com a luz da Palavra.
Peça a graça de sentir-se amada e filha preferida por Jesus.

  • Aprofunde a experiência de Mt 9, 18-26 na oração.
  • O que o texto diz para você?
  • Quais os sentimentos devem ter experimentado Jesus, A mulher e a menina?
  • Que sentimentos ficam em você?

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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