Entre as dimensões que constituem o existir humano (ser racional, político, social, cultural, religioso; ser criativo; ser que brinca, ri, joga; produz, trabalha; ser livre, que fala…), os valores também constituem nossa existência. Valorar pertence à essência do se humano.
O que são valores?
O sentido da nossa vida passa pelo universo dos valores. Não é possível pensar a existência humana separada dos valores. É da essência do ser humano proferir constantemente juízo de valor. estamos sempre escolhendo entre várias opções e possibilidades. O que orienta essas escolhas são os valores. Via de regra, escolhemos o que julgamos ser o mais valioso do ponto de vista moral e também o que nos traz bem-estar, satisfação, ou seja, felicidade.
Valor é a qualidade de uma coisa (objeto) ou mesmo um ideal moral e político que só pode existir e adquirir valor a partir de um sujeito dotado de consciência e liberdade. Os valores existem em si ou não uma criação dos sujeitos? Por que algo tem valor ou se torna valioso para nós? Diante dessas perguntas, há duas posições, Uma diz que há valores em si e estes são imutáveis e independem do sujeito.
Outro olhar afirma que não pode existir um valor sem relação com o sujeito. Não existem valores em si, independentes de qualquer relação com um sujeito valorizante. O valor não é propriedade dos objetos em si, mas conquistado graças à sua relação com o ser humano consciente e com ser social. Sem um sujeito consciente, não há valores. Valor é sempre valor para alguém. A referencia a um sujeito é da essência do valor. As coisas são valiosas porque há um sujeito que as deseja e lhes confere valor.
Os valores existem para um sujeito, entendido, não no sentido de mero indivíduo, mas como ser social. Nesse sentido, podemos dizer que os valores são criações humanas e só existem e se realizam na e pela pessoa humana. Os valores existem unicamente em mundo social. Nessa perspectiva, podemos afirmar que não há valores objetivos nem absolutos. Aquilo que para uns é valor pode ser para outros um desvalor. Os valores, portanto, estão profundamente entrelaçados com o contexto histórico e com a cultura de cada povo, de cada comunidade, de cada individuo.
Alguns valores perdem-se no tempo, outros adquirem novas faces, outros nascem. Alguns valores, no entanto, são perenes e universais, orientando, como bússolas, os seres humanos, para viverem uma existência harmoniosa e feliz. A justiça é um desses valores supremos. O maior de todos, proposto e vivido por Jesus, e que vai além da própria justiça, é o amor. Amor a todos e a tudo, inclusive ao inimigo. No âmbito dos valores universais, encontramos também a liberdade, a verdade, o respeito às coisas dos outros (“não roubarás”) e o respeito à vida (“não matarás”).
Valor e cultura
A cultura é a realização de valores. Todo processo cultural é condicionado e determinado por valores. A essência mais profunda da cultura é a realização e atualização dos valores que, criados coletivamente, podem ter a adesão dos indivíduos. Por isso, a nossa luta deve orientar-se no sentido de criar uma cultura que tenha como valor central a vida, a justiça, a democracia, os direitos humanos, a paz, a pluralidade.
Precisamos educar os jovens e nos educar a partir dos valores que defendam a dignidade de cada ser humano. No caso do Brasil, é fundamental pensarmos a igualdade social, a justiça, a cidadania política e social, a liberdade para dizer a palavra e ser protagonista da história como valores fundamentais para uma vida democrática, livre de exclusões e violências contra a pessoa humana e seu direito de ser sempre mais gente.
Inácio Pinzetta,
doutor em Filosofia, professor de Humanismo na Unisinos
e de Filosofia no Ensino Fundamental na Escola
EMEF Olímpio Vianna Albrecht, São Leopoldo, RS
Sérgio Trombetta,
professor de Antropologia e Ética na Unisinos e na Faccat, Igrejinha, RS
Fonte: Revista Mundo Jovem – março de 2014