Neste mês de setembro, nosso olhar já está habituado a se voltar para a Bíblia, Palavra de Deus me nossa história. É bonito perceber como cada ano o Mês da Bíblia traz á gente uma verdadeira primavera, incentivando um encontro mais assíduo com a fonte maior de nossa fé. Por mais que se tenha caminhado na pastoral bíblica do Brasil, sempre resta um longo caminho a percorrer. Pois quem lê a Bíblia, quer naturalmente tirar o máximo proveito desse livro no qual se descobre a Vida. E volta sempre a pergunta, como se a gente começasse tudo de novo: Qual o melhor modo de ler a Bíblia?
Tanta coisa já se falou a respeito, que parece difícil contar uma novidade. É que, bem ou mal, todo mundo acha que sabe ler a Bíblia o suficiente. Já fez ricas experiências, tem de sobra vivência acumulada. São do domínio comum as noções de hermenêutica, método histórico-crítico, gêneros literários, análise estrutural, leitura orante, ler em comunidade, a Bíblia na liturgia, etc.
Mas eu gostaria de chamar a atenção para o seguinte expediente: Fazer à Bíblia as perguntas certas. Pois a Bíblia é uma pequena enciclopédia, onde encontramos de tudo, depende de que procuramos. Se você procura poesia, encontra poesia; se procura história, encontra história; se procura sociologia, encontra sociologia, e assim por diante. Então temos que fazer como aquela pessoa da parábola de Mt 13,45; buscar perolas preciosas. Aí com certeza, você vai encontrar muitas!
Mas quais seriam as perguntas certas a se fazerem à Bíblia? Para ficar só com as que acho mais importantes, cito duas:
– O que isto significou no “tempo da Bíblia”?
– O que isto está nos dizendo no “tempo de hoje”?
Quando se trata dos Evangelhos, por exemplo, ver qual era o ambiente histórico e cultural do tempo de Jesus, o sentido de suas palavras e de seus gestos, seu valor simbólico, o que ele quis dizer, como foi recebida a sua mensagem, qual a reação dos ouvintes, e por que tal reação.
Num segundo momento, observar as semelhanças e as diferenças entre o tempo de Jesus e o nosso, discernir no texto os elementos perenes e as inevitáveis marcas da época, indagar como a tradição da Igreja entendeu e viveu esta palavra e descobrir como a nossa realidade atual pode ser iluminada por aquela mensagem. Num esforço de imaginação, a gente procura pensar como é que o Mestre diria hoje o que disse no passado. Pois essa atualização da herança bíblica já se encontra na própria Bíblia: os textos mais antigos foram relidos à luz das circunstâncias posteriores e aplicados à situação concreta do povo da época. É exatamente isto que fazem os midraxes.
Enfim, uma coisa sobre a qual precisamos refletir: compreender a Bíblia não é um fim de si mesmo; é um caminho para seguimos adiante, construindo a comunidade e servindo ao Povo de Deus.
Pe. Raimundo Vidigal, C.Ss.R
Fonte: Revista Akikolá