Ser humano, morada de Deus
A redação do Evangelho de João se dá ao redor do ano 100. Constitui uma reflexão pós-pascal das comunidades joaninas. O texto deste domingo faz parte do discurso de despedida de Jesus aos seus discípulos. Percebe-se íntima relação entre Jesus e Moisés. Assim como Moisés fora enviado para guiar o seu povo rumo à terra prometida, Jesus foi enviado por Deus para dar a vida à humanidade.
Assim como Deus se manifestou no Êxodo por meio de dez sinais, Jesus realiza sete sinais libertadores. Assim como Deus revelou, por meio de Moisés, os Mandamentos como estatutos para
o povo de Israel, Jesus revela o Mandamento do Amor, estatuto do novo povo de Deus, conforme
o texto do domingo passado. Há, porém, uma novidade radical, sintetizada no texto da liturgia de hoje. É fruto da experiência de fé, ao longo da caminhada das comunidades joaninas, que iluminou a compreensão da pessoa e da proposta de Jesus: ele e o Pai vivem intimamente unidos. O que Jesus diz e faz é a própria expressão de Deus Pai. Jesus e o Pai são UM. A intimidade amorosa entre ambos
estende-se às pessoas que praticam o amor.
Nelas Deus faz sua morada. O mesmo foi dito do Espírito Santo (v. 17). Então, a pessoa que crê torna-se morada da Trindade. Cumpre-se a antiga promessa da habitação de Javé no meio de seu povo: “Estabelecerei a minha habitação no meio de vós e não vos rejeitarei jamais. Estarei no meio de vós, serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” (Lv 26,11s). Em João, porém, é ainda mais profundo: a habitação divina não se dá apenas “no meio”, mas “dentro”. É uma experiência única e maravilhosa.
A comunidade cristã, portanto, é a expressão viva de Deus-Amor. As pessoas participantes ouvem a sua Palavra, que é o próprio Jesus feito carne, presente no meio delas. O Espírito Santo, dom do amor de Deus, recorda todos os ensinamentos de Jesus. Como ouvintes e praticantes da Palavra, unidas na fé e no amor, as comunidades cristãs transformam-se num espaço da paz e da alegria de Deus. O termo “paz”, na Bíblia, expressa a síntese dos bens necessários para uma vida plena, tanto temporais
como espirituais.
Celso Loraschi
Fonte: Revista Vida Pastoral – maio 2016