A celebração do martírio de São Pedro e São Paulo no dia 29 de junho é de origem antiquíssima. De acordo com a Depositio Martyrium – importante documento com uma lista dos mártires celebrados em Roma e nos lugares circunvizinhos -, a referida solenidade já era atestada neste dia e mês no ano de 258. Santo Agostinho, no quinto século, nos fala sobre essa celebração: “Num só dia celebramos o martírio dos dois apóstolos; na realidade, os dois eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho: Pedro foi à frente, Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos”.
O catecismo da Igreja Católica apresenta o martírio como “o supremo testemunho prestado à verdade da fé, designa um testemunho que vai até a morte” (CIC 2473). Os primeiros séculos do cristianismo (do século 1 ao 4) são marcados por esse ato testemunhal até a morte de tantos homens e mulheres em diversas cidades do mundo de então. Diante da possibilidade da apostasia – o abandono da fé cristã – e da idolatria – prestar culto ao imperador 0, os primeiros cristãos se entregavam à morte pela fidelidade aos preceitos do Senhor.
A comunidade cristã percebeu no mártir um cristão completamente inserido no ministério pascal de Cristo. Como Cristo venceu o mundo, o mártir unindo a Ele consegue vencer as forças do pecado e do mal. Por isso, desde cedo, se começou a celebrar o dia da morte daquele que foi fiel no testemunho do Senhor. Essa celebração, adornada de salmos e de cânticos de louvor, era caracterizada por um tom festivo e vitorioso. Ao se reunir para recordar a entrega da vida do mártir, a Igreja pede a força do Espírito Santo para manter-se fiel nas dificuldades próprias do seu tempo. O culto aos mártires é um reconhecimento da ação do Espirito do Ressuscitado, que sustenta a fraqueza humana e dá coragem para o testemunho de Cristo no mundo (cf. Prefácio dos mártires).
Atualmente, ainda, tantos cristãos são pressionados a abandonar a sua fé ou são constrangidos a viver numa situação de limitação cultural e social. De quando em vez, sabemos de inúmeros casos de irmãos na fé que entregaram a sua vida por serem fiéis aos mandamentos de Cristo diante de sistemas religiosos e sociais injustos. Embora o mundo seja, muitas vezes, hostil ao cristianismo, a Igreja é chamada a trilhar pela via do amor, da misericórdia, do serviço e do perdão. Dessa forma, a comunidade eclesial poderá com Jesus exclamar: “Eu venci o mundo!” (cf Jo 16,33).
Celebrar a Solenidade de São Pedro e São Paulo é reconhecer os pilares da Igreja apostólica. Na história desses dois apóstolos está a reprodução da vida de seu mestre Jesus. Eles viveram a radicalidade do seguimento não antepondo nada ao amor. Ambos, segundo a tradição, entregaram sua vida na cidade de Roma sob a perseguição do imperador romano Nero. Pedro teria sido crucificado de ponta cabeça entre os anos de 64-67 e Paulo, poer sua vez, degolado entre os anos de 65-68. O lugar da morte dos referidos apóstolos foi se tornando um centro de peregrinação de cristãos do mundo todo. As duas basílicas – de São Pedro e de São Paulo – atestam para a Igreja de todos os tempos a necessidade de se manter firme diante das dificuldades no anúncio e na vivencia do mandamento da caridade.
Texto: Jornal Testemunho de Fé