Toda virtude é obra e dom do Espírito Santo. Ninguém pode arvoar-se no direito de exigir nada, simplesmente somos chamado a permitir que em nós Deus-Trindade faça brotar seus dons. Mas abandonar-se em Deus não significa cruzar os braços. Deus oferece os dons para quem os busca e os deseja. Existe uma via de mão dupla entre Deus que oferece e eu que dou permissão e deixo-me transformar.
Pensemos na virtude da CARIDADE. Essa virtude, chamada teologal, pela sua importância, tem tudo a ver com esse amor que Deus nos oferece. Antes de tudo, lembremos que o Deus mesmo é caridade ou amor, se quisermos usar outra tradução para a mesma palavra (1 Jo 4,16). A palavra CARIDADE ou AMOR, encontrada em muitas passagens da Bíblia, são duas formas de traduzirmos a palavra grega ÁGAPE. Aqui falamos de uma caridade que é mais do que dar algo para alguém. dar esmola ou fazer um gesto de doação material. Ágape é o modo sublime do amor, é a manifestação do coaração que deixa de lado sua própria vida e as preocupações para entregar-se ao apoio ao próximo. O exemplo mais profundo da CARIDADE foi o gesto de amor de Jesus em se oferecer por nós na cruz. Ali o amor chegou ao ápice da perfeição.
Talvez para nós essa perfeição divina do amor seja meta inalcançável, mas jamais devemos deixar de querer alcançar tal intensidade de caridade humana. Quando olhamos a vida dos santos e das santas, o que encontramos é a busca incansável para perfeição na caridade. E como é bom ver e saber que é possível amaro outro de modo gratuito, fraterno, desinteressado e transformador. Basta que deixemos Deus nos guiar, e seremos capazes de viver a caridade.
A virtude da Caridade, vivida de modo intenso em Deus, vai então desdobrar-se nos gestos corriqueiros da caridade prática com os outros. Nesse momento deixamos de ser assistencialistas, para nos tornarmos em Jesus, caridosos. Talvez você conheça muitas pessoas que, mesmo sem ter fé, ajudam de maneira prática os que mais sofrem. Louvável é esse gesto de assistir os mais pobres.
Porém, o cristão, pela marca do batismo e pela fé não deveria fazer somente um assistencialismo, mas quando decide ir ao encontro dos mais necessitados, ele o deveria fazer por reconhecer no outro o próprio Cristo Jesus, e ter consciência de que o bálsamo que levo aos mais necessitados é fruto de uma experiência de fé. Jesus mesmo está precisando de mim, e caridosamente eu me esqueço de mim mesmo para atender o Cristo que está no meu irmão, na minha irmã. Isso é o significado da verdadeira caridade em Deus. Doar-se pelo outro, pois, no outro, Jesus segue chamando pelo meu amor.
Chegar a essa consciência cristã é algo tão sublime que São Paulo, escrevendo aos Coríntios irá dizer: “Por hora permanecem três coisas, fé, esperança e caridade. A maior delas, entretanto, é a caridade.”
Pe. Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Fonte: Revista de Aparecida – abril 2016.