No último domingo do ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Essa celebração introduz a comunidade dos fiéis no ministério do Reino de Deus, que, apesar de estar presente em germe na Igreja, se desvelará plenamente no fim dos tempos. A festa de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em 1925. Quando da sua instituição, esta festa era celebrada no último domingo de outubro. Depois da reforma litúrgica, passou para o último domingo do tempo comum, mostrando assim que tudo deve se dirigir para Cristo, alfa e ômega, isto é, princípio e fim de todas as coisas. Este sentido da festa pode ser captado pela oração da coleta: “Deus eterno e todos-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente”.
O tema da realeza de Cristo tem sua origem na Escritura, foi conservado nos símbolos de fé da Igreja e aprofundado pela teologia, possuindo acentos próprios para a vivência cristã. é um assunto importante, pois manifesta algo da realidade final já presente na história dos homens.
Na pregação e nos atos de Cristo se revela a natureza real do Reino de Deus. Esse Reino é, fundamentalmente, abertura divina para a comunhão com os homens. Tal abertura acontece na amorização, na reconciliação, na conversão e no reerguimento das pessoas por meio do ministério de Jesus: “Pois, por meio Jesus, nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso ao Pai” (Ef 2,18). Jesus Cristo é o próprio Reino de Deus na medida em que Ele é o reconciliador e o protótipo da união entre o divino e o humano. A presença desse reinado vai se expandindo conforme os homens vão se entregando à vivência do amor divino, se tornando capazes não só de serem amados, mas também de corresponderem a esse amor: “O primeiro mandamento é: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor, e amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força” (Mc 12,29-30).
A Igreja – Corpo místico de Cristo – é o germe da presença do Reino no meio da humanidade. Cabe a ela a missão de prolongar a obra de comunhão e de reconciliação entre Deus e os homens: “Sendo assim, em nome de Cristo exercemos a função de embaixadores e, por nosso intermédio, é Deus mesmo que vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20). Assim, através da celebração doa sacramentos, a comunidade eclesial comunica as forças de comunhão e de perdão aos fiéis. Por sua vez, os cristãos são chamados a experimentarem a força desse Reino nos seus relacionamentos: “O segundo mandamento é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12,31). Dessa forma, o reinado de Cristo se manifesta nas relações entre os homens, marcadas pelo sinal do amor, da justiça, do perdão e da misericórdia.
Embora o Reino de Deus tenha entrada na história por meio do ministério de Jesus e esteja se prolongando na presença e no serviço da Igreja, ele não se realizará plenamente neste mundo: “Meu reino não é deste mundo […], meu reino não é daqui” (Jo 18,36). O mistério total de comunhão com a Trindade e da fraternidade humana só acontecerá na derradeira Páscoa de Igreja.
Assim sendo, a Solenidade de Cristo Rei quer infundir uma tríplice luz nos fiéis: a memória chegada do Reino por meio do Senhor; a atualização da vocação e da missão eclesial de ser germe desse reinado entre os homens; e a abertura do coração à esperança do dia final no qual o Reino de desvelará plenamente, a fim de que Deus seja tudo em todo (1Cor 15,28).
Texto com adaptações
Fonte: Jornal Testemunho de fé- Novembro 2015