Jesus passa a descrever as práticas do serviço a Deus. E o eixo dessa prática é a vivência da justiça do reinado de Deus, isto é, a vontade de Deus. De outro lado, sabemos que uma sociedade que se estrutura para garantir, sob todos os meios, o acúmulo de propriedades e de bens é intrinsecamente injusta, causando miséria e violência. Dessa forma, também gera preocupação e angústia nas pessoas que não têm o que comer, o que beber ou com que se vestir.
Jesus sabe do significado do pão, da água e das vestimentas na vida do povo. Sabe também que o povo anda preocupado com o que comer, beber e se vestir. E igualmente tem consciência de que a questão vai além da luta pelas necessidades imediatas.
Confiar em Deus e entregar-se à sua providência é uma atitude fundamental. Mas não é suficiente. Por isso, Jesus vai mais longe. Ele sabe que a fome é consequência de uma sociedade injusta que não quer partilhar.
Convém, aqui, recordar uma fala de Dom Hélder Câmara: “Quando dou pão aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que há pobres, me chamam de comunista”. Também Jesus tinha consciência disso. Essa é a razão por que insiste em não consumir todas as energias na luta diária para satisfazer as necessidades básicas. Há uma luta maior. E essa luta é por um projeto de sociedade, de novas estruturas que garantam a todas as pessoas o acesso aos bens básicos para ter vida em abundância, vida digna. Por isso, Jesus nos convoca com um imperativo: Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6,33). É um projeto novo, com novas estruturas, mais justas, embora simples, sem roupas luxuosas, nem celeiros para acumular.
É preciso confiar no amor de Deus e na solidariedade das pessoas, engajando-se na construção de uma sociedade justa. O texto nos convida a refletir e a buscar o significado mais profundo da vida no que é essencial. E a essência é ocupar-se com o Reino de Deus e a sua justiça.
E você, de que lado está?
Por Ildo Bohn Gass, biblista, assessor e autor do CEBI.
Com adaptação feita por Ir. Sirley
Fonte: CEBI