O amor e cuidado que Madre Antonia tinha com as meninas era muito grande. E ela deixava isso muito claro, assim como um amor de mãe, e travava as moças com especial bondade e compaixão. Em uma carta, Madre Antonia conta de forma lúdica como se dá o cuidado com as mulheres que chegam até a casa de acolhida.
“Tivemos um exemplo valioso nestes dias. Eu contarei porque é adequado ao assunto e pode servir de exemplo na conduta com as moças. Temos pombas, um casal e dois filhotes; todas brancas com manchinhas pretas. Eu costumo dar-lhes de comer. De repente, há dois dias vimos uma pomba desconhecida com penas de cor de canela. Surpreendemo-nos que permanecesse e não pensasse em partir, seguindo a vida das outras. Logo uma mulher veio trazer-me a pomba, mostrando-me sua patinha inchada e fortemente atada com um fio, cuja ponta fortemente amarrada estava dependurada.
Não tardamos a compreender que era uma cativa que quebrara sua cadeia e tinha vindo refugiar-se no Asilo. Tive muito trabalho para cortar as várias voltas do grosso fio que aprisionava a pobre patinha inchada, tornando-se o trabalho ainda mais custoso por causa da inchação, que dificultava a operação, visto que era difícil cortar só o fio e não machucar a pata, sobretudo porque o animalzinho, vendo-se presa, se debatia e não ficava quieta.
Pobrezinha! Como as mulheres, que permanecem atadas, maceradas pelas paixões ainda existentes, e se debatem quando se procura curá-las sem compreender sua situação. Como a pombinha, que se zangava contra a mão benevolente que a queria livrar das ataduras. Por fim, concluiu-se com sucesso a operação, a patinha se viu livre e, pouco a pouco, desinchou. Contente, a pomba permaneceu na casa com as outras e não voava sequer sobre o telhado. Então, a Madre Consuelo trouxe-a a mim, dizendo-me que parecia ter algo na asa. Olhei-a e o que vi?… Todas as grandes penas costuradas fortemente umas às outras até a metade, impedindo assim o voo.
Custou-me um trabalho imenso cortar essa verdadeira costura feito com linha fortíssima, debatendo-se enquanto isso a avezinha. As penas estavam unidas com um pesponto e, tendo acabado de cortar uma asa, vimos que a outra se encontrava em igual estado… e era um espetáculo ver a avezinha sacudir suas asinhas e alisar as penas!
Esse caso das pombas suscitou-me muitas reflexões. Quem não o compara o de nossas moças? Num ímpeto rompem com a corda do vício, mas por muito tempo lhes restarão as ataduras dos pés, que as impedirão de trilhar o reto caminho; e mais ainda as das asas, isto é, do espírito de auto-suficiência, da rebeldia, da revolta e de outras tantas feridas que as impedem de erguer deveras o coração a Deus e voar de virtude em virtude. Cabe às Oblatas ir cortando, pouco a pouco os fios com suavidade, sem ferir a parte enferma, e ainda que não conheçam àquelas a quem querem fazer o bem.
MF Cor Jerez, 1892, à Mestra de Noviças. Cópia de um impresso – com adaptações.
Fonte: Biblioteca Histórica – Origens da Congregação.
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