A frase acima é uma das mais cortantes, proferida por Jesus aos chefes religiosos. Os cobradores de impostos e as prostitutas constituíam as duas classes de pessoas mais odiadas e que sofriam maior preconceito na sociedade religiosa de seu tempo.
Com sua presença e ternura Jesus quebra as atitudes preconceituosas que delimitam friamente os espaços e alimentam proibições que impedem a manifestação da vida.
Jesus provoca um grande escândalo nos seus ouvintes, sobretudo entre os fariseus, sacerdotes e anciãos do povo, que se consideravam superiores aos outros, perfeitos cumpridores da lei, e, portanto, merecedores da atenção de Deus.
Eles apresentavam-se como modelos para o povo, porque viviam atraídos por um Deus que somente eles encontravam. É duro viver ao lado de um fundamentalista, porque igualmente duro é seu “deus”.
De fato, há um monstro que habita as profundezas de nosso ser, devorando-nos continuamente e expelindo seu veneno mortal: trata-se do preconceito.
Ele constitui o risco permanente em nossa vida, pois limita a realidade, aumenta as distâncias, estreita o coração, inibe o olhar e nos faz incapazes de acolher o bem e a verdade presentes no outro que é diferente.
O preconceituoso está o tempo todo petrificado em suas velhas e deformadas opiniões sobre tudo e sobre todos. Ele é precipitado em julgar, apressado e ansioso na formulação de juízos sem critérios.
Jesus, pelo seu modo de ser e pela sua pregação, toca as profundezas da vida. Ele convive, a maior parte de seu tempo, com aqueles que não tinham lugar dentro do sistema social-religioso existente. Ele se coloca ao lado dos excluídos e dos últimos da história: acolhe os “imorais” (prostitutas e pecadores), os “marginalizados” (leprosos e doentes), os “hereges” (samaritanos e pagãos), os “colaboradores” (publicanos e soldados), os “fracos e os pobres” (que não tem poder nem saber); os que não tem lugar passam a ser incluídos.
Nas encruzilhadas desafiadoras de hoje somos chamados a estabelecer, também com aqueles que não compartilham nossa fé, nem são de nossa cultura, mentalidade…, relações de proximidade, reciprocidade e intercâmbio; somos movidos a compartilhar com eles obscuridades e perguntas e também momentos de luz e de revelação.
Texto: Pe. Adroaldo Palaoro, sj.
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