Dia da Mulher, momento para lembrar e celebrar as lutas e conquistas de milhares de mulheres no mundo. Mas uma data para refletirmos quantas vidas femininas necessitam de uma mão amiga, de um impulso para resgatar sua própria vida e História.
SOMENTE SOU
Ir. Marilda de Souza
Meu nome, Deixa eu me lembrar…
sobrenomes, que nem me sei quem sou.
Bom me chamam de “Dita”, de Valdita, fui batizada assim.
Por favor, me dê seu CPF, RG, comprovante
de residência e outros documentos que tenha ai.
Tenho nada disso não senhora.
Se tinha, perdi pelo mundo afora.
O primeiro que perdi foi o tal de CPF
(era do Centro de Partida de Futebol?), mesmo sendo mulher
gosto de ver a bola rolar, ou melhor, gostava.
Hoje nem posso ver.
Foi a máfia do futebol que se aproximou de mim,
encheu de elogios minha “fia” e eu nunca mais vi.
redondo pra mim só a lua, o sol, nada mais…
O meu RG, aquele que tem uma
fotinha, joguei no primeiro matagal
que encontrei no meu caminho.
Sabe, o que me identificava, tirou
o pouco da vida que me restava.
Sou coberta pelo tempo, num tapete de luar.
Minha companheira é a estrela Dalva,
conto tudo pra ela, não guardo nada.
Nossa conversa acontece quando todos dormem,
aproveito sua hora de plantão.
Parece uma vida diferente, e é.
O vento na cara, o frio no pé,
é suave, mas às vezes dói.
Me vejo sob olhares que corrói, mas que faz de mim
eu, a mulher que o tempo moldou.
Sonhadora e que precisa a cada noite
De um tapete de estrelas.