Em 28 de fevereiro, as Irmãs Oblatas celebram a páscoa da Madre Fundadora, Antonia Maria da Misericórdia.
No texto abaixo, Ir. Manuela Rodríguez Piñeres – Oblata do Santíssimo Redentor, fala sobre a mistica de Antonia no trabalho Social que desenvolvemos nas atividades institucionais.
“Antonia Maria da Misericórdia essa mulher de FÉ, HUMANIDADE, CORAGEM E PROFECIA sempre inspira e traz novidade ao carisma Oblata, já seja vivenciado pelas irmãs, as/os leigas/os ou por toda pessoa que queira se espelhar nela, para seguir o Projeto de Jesus Redentor Libertador.
“Sentimo-nos em missão compartilhada com o laicato de espiritualidade Oblata e de outras espiritualidades, com outras pessoas crentes ou não. E com as instituições eclesiais e sociais para responder aos chamados e desafios atuais que brotam da realidade das mulheres.”[1]
Antonia uma mulher que se inicia na missão como leiga, abre-se a espaços para novas relações ao compartilhar sua mesa com mulheres que exercem a prostituição e de mãos dadas com José Maria Benito Serra.
Antonia é essa mulher profética que sonhou a comunidade de iguais: “Todas iguais, todas irmãs em tudo. Eu sou comunista quanto a comunidade.”[2] De qual igualdade estaria falando Antonia? Será que Antonia já intuía essa comunidade ampliada junto com o laicato incluídas as mulheres que exercem a prostituição?
Para compreender melhor estas afirmações e se aproximar a alguma resposta quanto a esses questionamentos, é bom trazer a tona alguns elementos bíblicos: MULHERES, segundo termos paulinos, são nada (1 Cor. 1.26-31). Vale relembrar também que Laos eram as pessoas que não tinham direito de participar da assembleia, do demos composto somente pelos homens livres da polis na sociedade grega. Laos era a mulher, os escravos, os bárbaros, os pagãos=camponeses/as, os/as considerados/as últimos/as que não contavam nada na sociedade, as pessoas menos nobres, desprezados/as. Aprofundando no sentido bíblico, estas pessoas são também são assembléia de Deus, são a Ekklesia,uma assembléia leiga porque plebéia sem sacerdote, em casa não em templo, ao redor de uma mesa e não de um altar para repartir o pão entre os irmãos e irmãs. Também porque a comunidade pode e deve acolher a todas as pessoas sem exclusão de classe ou de pureza. Chamando a todos/as de “santos/as” Paulo abate qualquer barreira ao encontro com Deus porque a igualdade está dada em Jesus Cristo.[3]
Nesse sentido Antonia pode ser chamada a Mulher da Ekklesia leiga, uma Ekklesia que não exclui ninguém, uma mulher visionária de essa comunidade de iguais, assumindo o jeito novo de Jesus na atuação e vivência do poder: “Façam isto em memória de mim ”[4]: Façam circular o poder nas suas comunidades e nas equipes, articuladas/os em parceria com outras/os e enraizadas em uma profunda experiência de “sabedoria religiosa” essa que é capaz de tocar o coração humano e alimentar esperanças (GEBARA I, 2008). Ou seja, sustentando-se numa profunda espiritualidade e mística e, sobretudo, no AMOR exprimido em fatos reais no cotidiano da caminhada e no compromisso solidário com as mulheres em contexto de prostituição. Em um compromisso que parte da acolhida as mulheres até um compromisso e atuação política que incida nas causas estruturais que geram a prostituição e a exploração econômica e sexual dos seres humanos.
Uma mulher com a marca da HUMANIDADE e do AMOR nas relações com as irmãs, com as Marias, com as pessoas benfeitoras, com as famílias das irmãs, e ainda mais com cada uma das mulheres nas quais via a “imagem de Deus” [5]. Desta HUMANIDADE está impregnado no seu “Testamento” [6], deixado antes de realizar sua passagem, sua Páscoa. Porque sua vida esteve permeada pelas atitudes e pelo jeito de Jesus que nos deixara como imperativo e também com caráter de testamento antes de partir: “Façam isto em memória de mim” [7]:Vivenciem o AMOR até as últimas conseqüências, até a entrega da VIDA em martírio pela causa das pessoas mais empobrecidas. Esse testamento de Antonia se pode batizar como o TESTAMENTO DO AMOR HUMANO, é um testamento que faz o convite a revisitar as vidas pessoais, as comunidades, as equipes e a se perguntar: Como é a qualidade das relações? Qual é a marca que nelas predomina?
Com certeza que se pode deduzir que elas se esforçam ter a marca da HUMANIDADE, do AMOR que vai além das diferenças, sejam culturais, pessoais ou provindas dos jeitos diferentes de ser e de enxergar as situações, de pensar, de sentir… E o AMOR é o que faz com que essas diferenças se possam relativizar até poder integrá-las e enxergá-las segundo o coração de Deus.
Cada 28 de fevereiro comemora-se a Páscoa de Antonia, essa passagem, depois dela ter trilhado um caminho de LUZ e de sombras, de desafios e incertezas, mas sempre caracterizado pela fé, a busca, a misericórdia, a compaixão, a solidariedade traduzida em profecia em ação com a realidade das mulheres em contexto de prostituição.
O testemunho de Antonia ao longo de sua vida traz um apelo hoje mais forte do que nunca: Viver relações novas, relações de igualdade no meio das diferenças e da diversidade das pessoas como das realidades.
“Deus se revela na medida em que se percebe em andamento, um “bom viver” gratificante e que empolga a buscar mais. Nascem e crescem relacionamentos novos, se aproximando aos que Jesus de Nazaré instaurou com pessoas e realidades no meio das quais se inseriu. Foi esta percepção que produziu grande impacto, no meio das comunidades, até uma interpretação nova a respeito do próprio nome do Deus dos cristãos/as (…)”[8]
Hoje somos convidadas a comemorar os 116 anos da Páscoa de Antonia no marco da celebração dos 150 anos de Missão Específica das Oblatas do Santíssimo Redentor, e a seguir as pegadas de Jesus nas pegadas de Antonia, sendo essa Assembleia de Deus que tem um lugar privilegiado para todas essas pessoas consideradas NADA neste mundo globalizado que exclui, desumaniza e mercantiliza os corpos humanos vertiginosamente. Indo assim a contramão da proposta do sistema capitalista liberal, hoje globalizado.
Antonia sonhou essa comunidade de iguais e hoje se sonha e se comprometem as comunidades Oblatas ampliadas a gerar um mundo de relações mais divinas e mais humanas.
[1] CAPITULO GERAL IRMÃS OBLATAS DO SANTÍSSIMO REDENTOR (2013) pág. 9. A tradução é própria.
[2] GOMEZ RÍOS, Manuel, (1987), “Junto al Pozo”, Pág. 68, Ed. Covarrubias, 19, Madrid, España.
[3] Cfr. GALLAZZI, Sandro e RIZZANTE , Ana Maria,(2012) ”TEOLOGIA DAS MULHERES a quem deus revelou seus mistérios”, Fonte Editorial, São Paulo.
[4] João 13,15
[5] BIBLIOTECA HISTÖRICA HERMANAS OBLATAS DEL SSMO. REDENTOR (BH I) VOL. 1 “Orígenes de la Congregación cronologías Generales y Documentos Varios”, pág. 218, párrafo 3°, Madrid, 1979.
[6] FELIPE, Pe, Dionisio Di, A Venerável Madre Antonia – Pedagogia do Amor – pág 357 editorial el Perpetuo Socorro- Madri 1962.
[7] João 13,15
[8] Cfr LUCIANO BERNARDI, Artigo Testemunhas do Reino, 2014.