A Bíblia oferece alicerce importante para que possamos nos desenvolver e cultivar a harmonia com todos os seres criados, possibilidade que a comunidade humana possa auto gestar e compreender-se desde a centralidade da Palavra de Deus.
No Evangelho de Mateus 5, o Sermão da Montanha, vamos perceber a preocupação em torno da necessidade de buscarmos um novo estilo de vida, um novo jeito de estabelecer relações com todas as criaturas, de modo que possamos recuperar a vida como obra de arte que é bela e precisa ser vivida intensamente e com um sentido profundo.
Em Mateus 6, Jesus apresenta uma economia que gera vida. Ele fala da solidariedade desinteressada para com os mais pobres (vv. 2-4), da partilha do pão cotidiano (v. 11) e do perdão de dívidas (v. 12). Em seguida, Jesus apresenta a economia de Deus em confronto com o projeto de quem serve ao dinheiro (Mateus 6,19-34). Aqui, Jesus vai ao ponto central da nossa condição humana: deixar-se levar pela cobiça e servir à riqueza ou deixar-se conduzir pelo dinamismo do amor e servir a Deus. São dois modelos econômicos, duas formas de organizar a sociedade. Uma tem como base o poder da riqueza, que gera angústia, fome, preocupações e injustiças. A outra prioriza uma estrutura social que privilegia a justiça do reinado de Deus, gera dignidade, alegria e vida cidadã.
Em Mateus no versículo 24, Jesus revela a essência da economia de Deus. Não é um projeto econômico em que as pessoas gastam sua vida na luta pela sobrevivência, pelas necessidades fundamentais, tais como comer, beber e se vestir. Porém, Deus está preocupado com um projeto econômico em que sua vontade, sua justiça impregne um sistema que garanta a dignidade dos corpos de todas as pessoas na satisfação de direitos fundamentais que, segundo o texto, são os direitos à comida, à água e à roupa.
Aqui, Jesus explicita o sentido da bem-aventurança para os pobres (Mateus 5,3). Ser pobre em espírito é estar totalmente a serviço de Deus. É aderir a seu projeto, sendo livre, sem estar apegado às riquezas, ao poder, a segurança. Ter espírito de pobre, de partilha e solidariedade é o oposto do espírito de consumismo e de acumulação de riquezas. Dois são os caminhos fundamentais. Ou servimos aos tesouros da terra, ou nos colocamos a serviço dos tesouros dos céus (Mateus 6,19-21). Ser rico para Deus é partilhar, é ser solidário. Essa é a prática dos servos de Deus, prontos para viver na simplicidade, no desapego e na sobriedade. Temos a ilusão de que possuímos riquezas, quando na verdade são elas quem nos possui e nos governa. Não foi por acaso que as comunidades pós-paulinas escreveram: A raiz
…Continua.
Texto com Adaptação.
Por Ildo Bohn Gass, biblista, assessor e autor do CEBI.
Fonte: CEBI