Jubileu-extra (fora do tempo sugerido na Bíblia), mas num “tempo” oportuno” (Kairós) da graça transbordante do amor de Deus por nós. A bênção e abertura da Porta Santa Jubilar são simbólicas. Ela não é um objeto sagrado, mas sinal recordativo e convidativo a peregrinarmos mais atentos às coisas de Deus, voltando ao seu abraço de Pai.
O jubileu é a ocasião pedagógica do esforço espiritual e chance providencial da conversão. Aberta durante um ano, a Porta Santa acolhe os passos e anseios dos fiéis, cansados e vacilantes, mas em busca. O mundo atual, fluido em sua cultura de violência, descrença, intolerância, desrespeito e morte, marginaliza e envenena os contato humanos. Esquemas repugnantes da corrupção política nos jogam para fora do amor fraterno e do mero exercício da cidadania. Desprezam-se valores do perdão, da compaixão, partilha, acolhida. Trabalhos, negócios e lazer não incentivam esforços para fazer o bem, semear a paz, acreditar na verdade. Ao contrário, projetos pessoais e comunitários da pura convivência humana apenas demarcam as linhas divisórias dos interesses opostos.
Neste convívio social competitivo, gestos de perdão e misericórdia parecem significar fraqueza ou omissão. A palavra ‘perdão’ até suscita certa repulsa, é indigesta nos confrontos, entrechoques e desavenças familiares e outras. Perdoar ofensas tem preço! Estabelecemos limites e condições. O farto noticiário sobre crimes, assaltos, agressões armadas mantém viva a psicologia da ação X reação que aciona aqui, ali e acolá o clamor pela justiça leniente com malfeitores.
Na teoria, a tolerância é sinal cultural significativo da hora atual. Em nome dela advoga-se a liberdade de expressão, permitindo imprimir caricaturas, charges, sátiras, deboches provocativos e/ou ofensivos aos sentimentos religiosos. Muçulmanos e cristãos são alvos preferidos na mídia européia. Há reação por atos vingativos, atentados e assassinatos. Mesmo condenáveis, provam que a tolerância tem limites a respeitar acima de ideologias.
Liberdade de expressão não é direito absoluto na sociedade. Mas, para nós cristãos, a prática da misericórdia é sem limites. Ela é inerente ao mistério da fé em Cristo, que personaliza a misericórdia do Pai. Ela atesta o poder e a justiça de Deus. O mistério do pecado desafia, mas não suplanta o mistério da misericórdia. Impossível pôr limites a um “Deus que não se cansa de nos perdoar… Nós é que nos cansamos de Lhe pedir perdão… Onde houver cristãos, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia” (Papa Francisco). Sede Misericordiosos como o é o Pai, ensina Jesus (LC. 6,36).
Fonte: Revista de Aparecida – fev 2016