Reflexão sobre a Campanha da Fraternidade 2015

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“O Filho do homem não veio para ser servido, 
mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” 
                                                                                     (cf. Mc 10,45)



A Campanha da Fraternidade deste ano nos apela para a edificação do Reino de Deus por meio do diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, como propôs o Concilio Vaticano II á luz do Evangelho. Somos chamados e chamadas a edificar uma sociedade justa, fraterna. solidária e pacífica, através do serviço radical sem apegos aos poderes mundanos que obstruem e cegam o compromisso com o Reino. O presente artigo pretende retratar, de acordo com a campanha deste ano, a vocação do discipulado no aspecto bíblico enquanto serviço prestado na gratuidade, na comunidade eclesial, e em diálogo e colaboração com a sociedade, para que sejam implementadas uma nação justa que faça valer o direito e a justiça, de acordo com os critérios evangélicos e o projeto que Deus sonhou para todos nós.
Jesus- Mestre e senhor na condição de Servo Sofredor

A intenção do evangelista Marcos é dizer aos leitores e leitoras, em toda sua obra, quem, de fato, é Jesus. Embora Ele seja o Filho de Deus, nunca vai chamá-lo a si mesmo de Messias ou de Cristo. Como no versículo lemático Mc 10,45, a expressão a ser usada por Ele em todo o evangelho, é a de “Filho do Homem” (cf. Mc 8,31), Àquele que de Deus recebe o poder sobre os impérios deste mundo, conforme a profecia de Daniel (cf. Dn 7,13-14). Contudo, Jesus não é um Messias que subjuga e domina, mas o “Servo Sofredor” da profecia de Isaías (cf. Is 53, Mc 10,45). No entanto, os seus discípulos, no decorrer do percurso a Jerusalém, vão reconhecendo-o como Messias, o Cristo (Ungido), o Filho de Deus. Um centurião chega a proclamá-lo como “Filho de Deus” (cf. Mc 15,39). Após anunciar o advento do Reino de Deus na região da Galileia, Jesus vai (sobe) a Jerusalém, onde enfrentará as autoridades dos poderes constituídos na sociedade judaica que se opõem ao projeto de Deus. Por três vezes, desde a saída da Galileia, Jesus ensinava a seus discípulos e dizia-lhes abertamente em que realmente consistia a sua missão, e anunciava a sua paixão, morte e ressurreição (cf.Mc8,31-33; 9,30-32; 10,32-34). Em Jerusalém, o projeto de Deus chega à sua consumação no auge do crucificado, o verdadeiro “Cordeiro Imolado” que dá a sua vida em resgate por muitos. E os discípulos e todos os que vão a caminho com Ele, vão conhecendo-o, aderindo à verdade e à boa nova do Reino.

Tal Jesus… Tal discipulado…
O texto, do qual é extraído o lema da Campanha: “Eu vim para servir”, vai do vv. 39 ao 45 do capítulo 10 do evangelho de Marcos, e é paralelo a Mateus 20,20-28. Nos textos, esta perícope vem após o relato do terceiro anúncio da paixão de Jesus. Em seguida, na perícope posterior, temos o relato do seguimento do cego Bartimeu (Mc) ou os dois cegos (Mt) que recuperam a vista e passaram a seguir Jesus.
Em suma, o relato refere-se à ambição e à ostentação do poder que, certamente, reinava nas duas comunidades (Mc e Mt) após o desaparecimento das testemunhas oculares e dos discípulos diretos de Jesus. À medida que a comunidade vai crescendo e se organizando, criando certas estruturas, os problemas também vão surgindo e avolumando. E o perigo é óbvio: correr o risco de afastar-se do real projeto de vida para buscar vantagens pessoais em altos cargos, esquecendo-se de que o bem deve ser de toda a coletividade.
Jesus encontra-se a caminho de Jerusalém para responder com fidelidade, obediência plena e consciente ao Projeto de Deus no ato salvífico do sacrifício de cruz. Como ovelha, Ele caminha ao matadouro, o Cordeiro imolado que pagará com a sua própria vida o resgate de muitos. Enquanto caminha, multidões o seguem; Ele instrui e ensina seus discípulos a se tornarem  como Ele: “estar a serviço”. Eis de fato, a missão da comunidade eclesial, do discipulado  de Jesus: a fidelidade a seu espírito. No diálogo com os filhos de Zebedeu, Jesus deixa claro que a missão do discípulo não é diferente da do mestre. Eles beberão do mesmo cálice da dor, do sofrimento, da angústia e serão também batizados do mesmo batismo Dele: o do martírio ou o do  próprio testemunho. Mas nada disso tem a ver com recompensas exclusivistas da parte Dele como forma de retribuição pelo mérito praticado. Jesus lembra ainda, que o poder do discípulo missionário é completamente diferente do poder exercido à moda humana. Jesus lembra a comunidade dos discípulos, principalmente aos dez que se indignaram com Tiago e João, que a sua comunidade não segue a ótica dos governadores das nações que as dominam e as tiranizam na usurpação do poder, e que o poder exercido pelos membros de sua comunidade, nada mais é que um serviço prestado na gratuidade, como o de um escravo.

Vida a serviço
Finalmente, encontramos no texto do Lava-pés, durante a Última Ceia, um exemplo típico de colocar-se a serviço do Reino, conforme relato no evangelho de João, capítulo 13, quando Jesus se coloca coo servo, tirando o manto e colocando o avental (toalha cingida) para lavar os pés de seus discípulos. E, após esse gesto simbólico, Ele retoma o manto e volta à mesa como Mestre, sem desfazer-se do próprio avental, como a dizer que tudo aquilo, na prática, se culminará na cruz, na sua “hora”.
Jesus nos alerta que o discípulo não é mais do que o seu mestre, e que o servo não é maior do que o seu Senhor. E ao enfrentar a sua paixão e morte, nos mostra que a vida brota do lenho da cruz, e que não só significa essencialmente morte, mas vida doada livremente e com plena consciência a serviço da vida plena de toda humanidade. A Igreja, como porta-voz desta grande verdade, deve se fazer presente em todos os tempos e lugares como testemunha fiel e operante através do seu espírito.

Pe. Mario Alves Bandeira, RCJ
Religioso e sacerdote Rogacionista.
Rogate – Revista de Animação Vocacional
 Nº 329 – Janeiro/ Fevereiro de 2015




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As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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