A espiritualidade do natal, segundo Afonso, é de alegria e festa. A encarnação de Jesus Cristo é um mistério maravilhoso que une céu e terra. O verbo se faz carne e diviniza a humanidade, penetra-a com seu poder. Natal é graça. Não uma graça que Jesus conserva para si mesmo. É uma graça que, ao comunicar-se e doar-se, revela toda sua grandeza. “Um menino nos foi dado”; “o verbo se fez carne e veio habitar no meio de nós”; “nascei-nos um salvador”, Para nós, no meio de nós, em nós. É um presente de Deus a cada um e a toda humanidade. Jesus quer inserir todos na família de Deus. Humanizou-se para que homens e mulheres pudessem divinizar-se.
Afonso vê o natal como mais uma manifestação de amor: “O verbo eterno veio ao mundo para fazer-se amar por nós. É este todo seu desejo. Deus Pai mandou Jesus sobre a terra para que ganhasse o nosso coração mostrando que nos ama. Deus Pai não nos admite à felicidade eterna se nossa vida não for conforme a de Jesus. Mas só chegaremos a esta conformidade se nos aplicarmos a considerar o amor que Jesus manifestou a nós”: O santo é lógico. Deus nos ama se amarmos Jesus, perdoa-nos e usa de misericórdia conosco se estivermos unidos a Jesus. Sem Jesus estamos perdidos. O culto ao Verbo encarnado deve estar em primeiro lugar entre nossas devoções. “Muitos se dedicam a tantas devoções e esquecem exatamente esta. Os pregadores falam pouco do amor a Jesus, a principal, a única verdadeira devoção dos cristãos”. É um amor que se revela de maneira especial em três momentos bem precisos: encarnação, paixão e eucaristia. Como se não bastasse nascer para salvar-nos, Cristo morre e deixa o sacramento de seu sacrifício na cruz. É na eucaristia que fazemos o nosso encontro com Cristo. Ali ele está realmente. Quando comungamos acontece uma fusão, sem confusão, entre nós e o Verbo de Deus feito homem. Afonso se encanta diante do presépio, mas nunca esquece o desdobramento da vida de Jesus. O encarnado é também o crucificado e ressuscitado que se dá no sacramento do altar, mais um a “intervenção de amor”.
O natal nos coloca no coração do mistério da nossa fé e da nossa adesão a Jesus. “O amor quer ser amado”. Para vivê-lo bem não basta enfeitar a nossa casa, comprar presentes para os amigos, fazer uma bela ceia. Tudo isso é supérfluo. Sabemos que Cristo estará ausente de muitas ceias. Muitos nem se lembrarão do “aniversariante”. E lá fora Herodes continuará a matança dos inocentes. Por isto devemos enfeitar o nosso coração para receber o menino-Deus. Como fazê-lo? Deixando de lado o egoísmo e pensando nos irmãos.
Comprometendo-nos com a vida de Cristo. Assumindo os valores do Reino em nosso cotidiano. Fazendo nossa “a causa” de Jesus. Natal não é receber, é dar. Não são presentes. É “presença” de Jesus no meio de nós. É proclamar que apesar de todos os problemas e desilusões do mundo, nada nos faz esquecer que o Filho de Deus visitou seu povo e se mostrou aos homens e mulheres de seu tempo. E nós também somos convidados a participar desta visita. É sonhar o sonho de Jesus e acreditar que, apesar de tudo, vale a pena apostar em sua proposta, porque só ela é salvação para o mundo. Tudo isto acontecerá se o Deus-menino nascer em nós, de verdade, pra valer. Como dizia um místico medieval: “Cristo pode nascer mil vezes Belém, se ele não nascer pelo menos uma vez em nosso coração, jamais saberemos o que é o natal”. É assim que Afonso nos convida a viver este mistério maravilhoso de amor e graça. Do céu ele nos diz: Contemplem Jesus no presépio e deixem-se tocar por seu mistério. Assim Ele realizará todos os desejos do seu coração, muito além de suas expectativas. Feliz Natal!
Pe. Carrara, C. Ss.R. – Roma
Fonte: Revista Akikolá – Redentoristas do Leste em Notícias
– Ano 20 – nº10 – Dezembro de 2002