Aqui encontramos Maria com capacidade contemplativa, sentada silenciosamente a escutar Jesus. Marta se agitava em múltiplos serviços e se irrita com sua irmã. Podemos compreendê-la. Enquanto uma prepara a mesa para Jesus, a outra está lá, imóvel, sem fazer nada… Já conhecemos a resposta de Jesus.
Se olharmos o texto mais de perto, nos damos conta de que Jesus não censura Marta por trabalhar. Ele não censura sua avaliação. O que ele censura é a sua inquietação, a sua pre-ocupação. E este é, também, um grande ensinamento para nós. Porque algumas vezes tomamos por ações verdadeiras o nosso nervosismo, as nossas inquietações, as nossas pre-ocupações. E, algumas vezes, é a pre-ocupação que nos impede de agir. O que Jesus censura em Marta é, sobretudo, o seu estrabismo. Dois olhos que olham cada um para uma direção.
“Uma única coisa é necessária”. Quando comparamos, passamos ao largo do único necessário. A comparação faz com que nós não percebamos o único necessário. A “melhor parte” não é somente a contemplação, é não ver Jesus. A melhor parte é olhar em direção a ele, é termos o desejo orientado para o Ser, e se nosso desejo é orientado para o Ser, nós podemos ter momentos de contemplação e momentos de ação. Não é necessário opor um ao outro.
Ser humano é ser capaz de ação e ser capaz de contemplação. Mas o único necessário nesta ação ou nesta contemplação, no trabalho ou no repouso, é amar o Ser. Assim não se trata de comparar, na vida, as ações de uns e outros. O importante é que sejamos sinceros, que cada um de nós seja autêntico, porque cada um de nós tem a sua maneira particular de amar. Pode-se amar cozinhando ou pode-se amar rezando no segredo do seu quarto. Não se pode dizer que haja maior amor na oração do que cozinhar com um coração generoso.
Marta representa um lado de nós, que calcula, que mede e que compara. Trata-se de reencontrar Marta em união com Maria. Marta e Maria são como os dois olhos de um olhar. Os dois olhos olhando em direção ao Único. Trata-se de unir em nós, Marta e Maria, a ação e a contemplação, a palavra e o silêncio. Orientando o desejo dos dois em direção ao UM. E não comparar. É uma passagem do Evangelho muito significativa para nossa vida humana.
Vamos rezar e meditar a partir deste texto.
- Que questionamentos a atitude destas duas mulheres, provocam em mim?
- O que eu tenho de Marta e Maria em mim? Sou mais Marta, ou mais Maria?
- Como integrar estas duas dimensões na minha vida?