Chegamos ao momento em que Maria está aos pés da cruz. Ela está ali numa atitude diferente da de Maria Madalena… Ela mantém-se de pé, olha de frente o absurdo, a morte do inocente. Em algum momento de nossa vida é preciso nos deixar levar por esse exemplo. Deixar-nos habitar pelo que nos mantém retos. Fazer face ao inaceitável. Talvez, então, entremos na serenidade diante da morte e diante do absurdo.
Maria vê o amor na morte. Quer dizer, ela sabe que a vida de seu filho não lhe será tomada porque ele a doou. No evangelho há esta frase: “Minha vida não me será tirada, porque eu a dou”. Ela compreende isso. Que não se pode tirar de Jesus o que ele já deu. É preciso lembrar a nós mesmas que a única coisa que não nos pode ser tomada é aquela que já doamos. Ele deu a sua vida, não pode retomá-la. Como isto ressoa dentro de mim.
Aos pés da cruz Maria contempla o amor mais forte que a morte. Ela contempla o ressuscitado no crucificado. Por isso ela não tem necessidade de ver o Cristo ressuscitado, no exterior. Ela é diferente de Maria Madalena que tem necessidade de ver, de escutar, de tocar. Maria sabe sem ver, sem escutar e sem tocar. É uma forma de conhecimento muito íntimo. Uma certeza sem provas. Uma certeza que é dada pela prática da meditação. Ora, o Evangelho diz que Maria meditava todos estes acontecimentos no coração. Não se trata de compreender. Trata-se de meditar. E, algumas vezes, na nossa vida há acontecimentos que não podemos compreender. É preciso não recusá-los. É preciso acolhê-los em nossa meditação. E o sentido, pouco a pouco, vai se revelar. Um sentido que está além das explicações. Como essa atitude de Maria ilumina minha vida?
Três mulheres e um homem junto à cruz de Jesus. Quando Jesus era acolhido e até aclamado, estas mulheres se mantinham discretamente à distância. Agora no auge do abandono e de sua humilhação, lá estão elas, cheias de coragem e de dignidade. E não é assim até hoje? Estou eu junto a cruz de meus irmãos e de minhas irmãs?
Peça, hoje a graça de compartilhar com Maria, a Mulher do silêncio, do projeto de salvação de seu Filho Jesus.
Permaneça com ela, com as outras mulheres de ontem e de hoje, tentando perceber a sua própria vida que foi doada, em defesa da vida de nossos muitos irmãos e de nossas Irmãs de comunidade.
Procure ler e rezar o Cântico do Servo sofredor – Is. 52, 13-15. 53, 1-12, tomando consciência de como você acolhe, abraça, e carregada a cruz no cotidiano de sua vida. Veja em que situações suas atitudes, palavras, gestos, reações … são cruzes para os outros.