É possível ser Santo?

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Há tanta coisa que anda desencontrada neste nosso planeta, que retorna à tona uma antiga corrente de pensamento e modo de viver, reafirmando o pessimismo sobre a “inviável condição humana”.
São as coisas desencontradas, pesadamente malvadas, que também jogam o foco sobre outro modo de tentar entender a vida e suas contradições: tudo é obra do maligno. O diabo estaria solto nesse mundo. Será? Pode até ser; mas não me parece essa uma boa leitura da realidade. E menos ainda vale dividir o mundo em gente do bem, gente do mal. Até porque as linhas que separam bem/mal serpenteiam no interior de nosso coração, de nossa mente, de nossos desejos. Ou não?!
Acredito que podemos adotar um outro ponto-de-vista, coerente com nossa espiritualidade redentorista. É a vista a partir da compreensão de Deus, criador e Pai. 
Retome a leitura  (bem lida!) do poema da criação, livro do Gênesis. E escute a mensagem ali contida sobre DEUS…
Há um poeta (Hölderim) que escreveu: Deus fez o mundo como o mar faz a praia: retirando-se. E não é que o poema diz: e no sétimo dia, descansou. E aí? Quem dá continuidade ao gesto criador de Deus, quem está no princípio das coisas, como Deus, é o ser humano. Somos nós. Fomos criados criadores. Por isso, a cada época da história, em cada cultura, geramos um mundo humano perfeitamente imperfeito. Nossa história humana é, pois, constante transformação; não  cedemos ao jogo da morte. Somos da vida! Deus criou a criação e deu ao sujeito humano o poder de nomear a realidade. O que exige que o mundo da cultura seja inventado por nós. Aí emergimos como criadores, continuando a obra divina da criação. Cumprimos, desta feita, nosso trabalho de criaturas: criar, fazer, suscitar. é trabalhoso, vem com suor e lágrimas; é alegria de viver, ao mesmo tempo. Nos enche de brio. Essa realidade é por demais evidente neste nosso mundo de tecnologia avançada (quanta maravilha!) e as ciências evoluindo sem parar. Obra do sujeito humano.
Essa liberdade inventiva do ser pessoa não compromete  nem tira coisa alguma da “criação divina”. Somos apenas  “ensaiadores da criação”. E nos perdemos no orgulho e na pretensão de sermos donos. Não o somos!
Mas… dá para a gente ser santo? Dá sim. Sobretudo quando se trata de sermos criatura e criadores de nossas relações. É só termos em nós mesmos sentimentos de Jesus, é só aprendermos a ser como Ele, filhos e filhas do Pai celeste, o Criador do céu e da terra. É só descobrimos por onde passa o sonho do Pai sobre nossa história humana, sobre nossas histórias pessoais de vida. É o que chamamos de fazer a vontade de Deus, vontade do Pai do céu. 
As relações humanas e suas correspondentes instituições… são construções do sujeito humano, são invenções criativas nossas, a organização do trabalho, a indústria, os sistemas políticos, o modelo escolar, a forma de ser família. Por que são construções nossas é bom desconfiar um pouquinho só dessa questão de “carma”, “destino”, “fatalidade”, “almas gêmeas” etc. etc.
O amor imenso de Deus por nós e sua liberdade criadora vão a ponto de nos confiar a nós mesmos! Então, sabendo disso (e gostando!) podemos, sim, construir relações de novas criaturas, redimidas por Jesus Cristo e agraciados com seu santo Espirito.
O engano nosso é querer e sonhar com coisas prontas. Há que pelejar, correr atrás, empenhar-se. A santidade, tornam divinas  nossas coisas humanas, começa pela construção de nós mesmos como pessoas. À luz  do amor redentor de Jesus por nós e no fogo transformador  de seu santo Espírito a nós dado  podemos construir nosso modo humano de ser que seja santo.
Somos criaturas. Fomos criados à imagem de Deus, quer dizer: criados para sermos com ele criadores, continuadores de sua obra. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus.
A semelhança é  tarefa nossa construí-la; para isso fomos batizados. Nossa semelhança com Deus e Pai é coisa de construção nossa. Essa é nossa tarefa, nossa santidade. Sermos semelhantes a Deus, como diz Paulo apostolo: somo da raça do próprio Deus. Atos 17,28,29.
Neste mês onde celebramos a vida de São José de Anchieta, São João, São Pedro e São Paulo, vai aí o desafio de vivermos como ressuscitados, como nova criatura. (Releia Rom 6 e 8).
Pe. Dalton – C.Ss.R. (Redentorista)
Texto extraído da revista Akikolá com adaptações

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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