Vocação Humana: Viva e deixe o outro viver

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O chamado a vida é a primeira e fundamental vocação que recebemos de Deus.  A existência de cada pessoa humana é fruto do amor criador do Pai e de sua palavra geradora, que é um apelo, chamando-nos para viver. Ao nos criar, Deus coloca em nós um sopro de vida (Gn 2, 7) e nos oferece todas as condições para vivermos com dignidade (Gn 1, 29; 2,9). 
Como dom gratuito de Deus, nossa vida também deve ser sinal de gratuidade, generosidade e amor com os irmãos e irmãs. Neste sentido a vocação humana é um mistério de predileção e absoluta gratuidade do Pai. Ao nos criar Deus nos colocou junto de todas as outras criaturas. Mas como Imagem e Semelhança de Deus, o ser humano recebeu a missão de cuidar e continuar a obra da criação. Deus nos dá toda liberdade diante da criação, mas também somos convocados, interpelados a respeitar os nossos semelhantes e todas as outras criaturas, que também são sinais da graça e do amor de Deus.
A nossa resposta a esse presente de Deus é faze-nos pessoas cada vez mais humanizadas, assumindo nossa vida e história como vocação. Devemos estar conscientes de que: a vida é um mistério oferecido, para ser desvendado. Aceitá-la é, portanto, iniciar um processo de descobertas, pois, não nascemos por acaso, não viemos ao mundo por acaso. 
Tornamo-nos responsáveis pelo nosso crescimento e por nossa salvação. “Viver é sinônimo de mudança constante”.  Sabemos que Deus chama cada pessoa a uma vocação específica, porém há uma vocação que é básica a todo ser humano; ser quem somos…, ou seja, sermos humanos, este é o princípio vocacional. E quando falamos em vocação cristã ou vocação religiosa, está dentro a vocação básica (primeira), sermos parte da humanidade. 
Como somos pessoas em constante construção, para ser humanidade precisamos ir nos humanizando, esta é uma tarefa fundamental, isto é, as pessoas foram criadas para se criarem. Estruturadas e capacitadas para nos construirmos como pessoas. Assim, a grande tarefa que nos é proposta é a nossa humanização, a qual não pode acontecer sem a nossa participação no processo.  
E essa caminhada do desenvolvimento humano, que ocorre em etapas, vai pedindo um sentido. Assim a capacidade de raciocinar e refletir mostra que cada pessoa é chamada a construir sua identidade, elaborando um projeto de vida. Temos vários exemplos nos ensinamentos de Jesus que se orientava no sentido de interpelar as pessoas a realizar os seus talentos, ou seja, a ser fiel às suas possibilidades de humanização.
“Na verdade, a base da divinização da pessoa é a sua própria humanização. Em outras palavras, as pessoas terão uma interação orgânica tanto mais profunda com as pessoas divinas, quanto mais se humanizarem no seu processo histórico. O processo da humanização capacita o coração da pessoa para acolher os outros como irmãos, condição essencial para comungar na Família Divina”. 
Na medida em que se humaniza, a pessoa torna-se humilde, verdadeira, reconhecedora de seus erros. Não julga os outros e muito menos as culpa pelos seus fracassos. Pelo contrário, o caminho percorrido para tornar-se de fato humano, leva a pessoa a ser amável e serena nas relações com os irmãos e irmãs. 
As pessoas revelam-se através das relações. Quando comunicamos significativamente com os outros, estamos nos estruturando como pessoas e passamos a compreender de modo progressivo a realidade das pessoas com as quais nos relacionamos, e pouco a pouco vai se criando uma reciprocidade. A pessoa humanizada sabe que a amabilidade, é a grande arma para desmontar a agressividade. Ter a gentileza de dar a primazia ao outro é uma atitude que gera comunhão.
Assim, a dinâmica das relações é fundamental para as pessoas se estruturarem e se conhecerem mutuamente. É através das relações que a nossa realidade espiritual aprofunda e se fortalece, nos fazendo emergir e crescer em nossa identidade fundamental. Podemos dizer que os seres humanos vão emergindo e encontrando a sua plenitude através da dinâmica das relações, pois são criados à imagem e semelhança de Deus, um Deus comunidade. 
Portanto, através das relações, as pessoas descobrem a sua realidade de ser único, original, irrepetível e capaz de viver em comunhão consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. E dessa forma ele é capaz de viver e ao mesmo tempo possibilita que o outro possa viver. E dentro desse processo treina-se a arte de facilitar a realização das outras pessoas, procurando aceitá-las por serem o que são, e não por fazerem o que gostariam que elas fizessem. Esta pessoa procura comunicar sempre numa linha de verdade e autenticidade. Por outras palavras, quando se vive o amor e a comunhão acontece a reciprocidade amorosa. A bíblia une sempre o amor a Deus com o amor aos irmãos e irmãs, reconhecendo que os outros/as são dons de Deus. 
Graças à sabedoria que nos vem da Palavra de Deus, nós sabemos que a nossa plenitude nem sequer pode acontecer sem os outros. É o próprio Espírito Santo que nos incorpora na Família de Deus (Rm 8. 14-17) . São Paulo diz que o Espírito Santo é o próprio amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5. 5) . É ele que nos ajuda a caminhar de modo seguro nesta arte delicada da nossa humanização, condição essencial para sermos divinizados/as com Cristo. E assim vivermos nossa vocação de evangelizadores, anunciadores de Jesus Cristo Ressuscitado.
“Diante de ti ponho a vida e ponho a morte, mas tens que saber escolher: Se escolhes matar, também morrerás; se deixas viver, também viverás.  Então viva e deixa viver (Dt. 30 …)”.
Ir. Sirley da Silva, Oblatas do Santíssimo Redentor

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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