Música: Um Patrimônio sagrado

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Neste 16 de novembro é comemorado a semana da música, e nós do Blog Oblatas vamos compartilhar com você um texto escrito por Zé Vicente para o Jornal Mundo Jovem.
Música: Um patrimônio sagrado
O sacerdote, primo do meu avô paterno, nutria uma paixão ardente pela música e pela natureza. Seu jardim e os altares que preparava despertavam a admiração de todos. Naquele recanto do sertão cearense, pudemos conhecer e ouvir o coro das mulheres cantando, acompanhando por ele mesmo, que tocava o velho harmônio. Nos momentos não litúrgicos, havia a sanfona, o violão, o realejo de boca. E a boa música popular entoada com vibração pelas sobrinhas e pelos amigos do querido Padre Francisco. Havia também as Desobrigas e Santas Missões dos frades, entre eles o mais conhecido, Frei Damião, que com sua campa e voz rouca, saía pelas cidades e povoados, com seus benditos exortativos.
A música nas várias tradições
Hoje estou convencido de que a minha vocação para ser poeta-cantos tem nessas memórias uma justa razão e contemplo o papel inquestionável da música na experiência mística e espiritual dos povos, desde os tempos mais antigos. Lembro do testemunho de um  índio que dizia: “A música é a alma que se põe de pé e dança diante do outro”. Na espiritualidade , a música nos move no mesmo sentido: a dançar com o divino, no balé clássico e popular, na ciranda infinita ou em qualquer outro ritmo e estilo fazemos coro e bailamos com o Altíssimo e Grande Amor, que é a fonte original de toda arte.
Numa tribo africana ou brasileira, uma mão negra que toca o tambor ou os lábios  de um índio que sopra a flauta de bambu, num dos diversos rituais próprios para cada ciclo da vida de cada povo, em qualquer lugar da terra, os corpos dançam e os espíritos sensíveis põem-se a bailar, sempre em comunidade com sua divindade.
Desde os tempos originais das religiões judaica e cristã, a Bíblia nos relata em muitas passagens sobre o papel de cantos, que foram verdadeiras trilhas sonoras de grandes momentos que marcaram mudanças de época. No Êxodo, a experiência fundante, após a vitória dos hebreus sobre o exercito do faraó egípcio, no Mar Vermelho (Ex 15); na crise da passagem do sistema tribal para a monarquia, tempo árido, infértil de novidade, tão  bem expresso no testemunho e no canto de Ana, mãe de Samuel (1 Sm, 2).  A comunidade cristã, segundo o evangelista Lucas, nos seus primeiros passos, põe nos lábios de Maria, mãe de Jesus, um dos mais belos e proféticos hinos, sobre as maravilhas de Deus na vida dos pobres e humildes (Lc 1,46-56).
Na história do Cristianismo, nas igrejas tanto católica quanto protestantes e evangélicas, a música está constantemente presente: na liturgia , nos cultos, na catequese, nas pastorais… Uma das mais belas expressões de música eclesial recebe o nome em homenagem ao papa que a oficializou como música sacra  católica, o Canto Gregoriano. Nas igrejas evangélicas, a música recebe o status de ministério, a serviço da vida eclesial. A Renovação Carismática Católica  seguiu esse exemplo, promovendo o surgimento de inúmeras  bandas e grupos musicais.
A grande rede das Comunidades Eclesiais de Base possibilitou o nascimento de muitos artistas, principalmente no campo da música, encarando um belo desafio, que é o trazer para as celebrações populares, encontros, romarias etc. a linguagem, os instrumentos e os ritmos e sotaques das populações de cada região.
Sem esquecer os desafios
Vale lembrar que nos encontramos diante de uma grande movimentação de mercado no campo da música na sua relação com a religião. É nominada como Gospel, Evangélica, Sacra, Religiosa e outros nomes. O que importa para muitos produtores e empresários é ocupar uma cota maior de espaço nas grandes mídias e conquistar  consumidores em larga escala, não importando tanto a qualidade da mensagem e a ética na missão artística que o Evangelho exige.
Hoje temos vários exemplos de padres, pastores ou leigos e leigas, representantes de várias correntes musicais, das várias igrejas, que estão aí pregando, cantando, anunciando suas produções, e até, cumprindo certas regras que seus empresários exigem, em nome de Jesus e da evangelização.
O cantor chileno Victor Jara cantava nos idos dos anos 1970, quando as ditaduras militares dominavam vários países da America Latina: “Eu não canto por cantar, nem por ter boa voz, eu canto porque a guitarra tem sentido e tem razão”.
Quando esse canto é em nome de Deus, a nossa responsabilidade cresce ainda mais, para não cairmos na tentação de confundir o sagrado da música na relação com o divino com o lucro a qualquer custo, que as leis sem limites do ídolo mercado nos impõem.
Texto: Zé Vicente
(poeta, cantor, com mais de 15 CD’s e um livro de poemas,
produzidos pela Paulinas COMEP, 
e outros de modo autônomo. Seu novo trabalho 
é o CD intitulado “Zé Vicente da Esperança”.)

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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