Tomo emprestada uma observação do papa Francisco, logo após o lançamento do Ano Santo da Misericórdia. Naquela ocasião, dizia o Pontífice que a palavra misericórdia é formada por outras duas, de origem latina: miseror e corde (miséria e coração). Ou seja, o Jubileu extraordinário da Misericórdia representa um coração que abraça a pobreza e a miséria, especialmente onde a vida se encontra mais ameaçada.
Assim é a atitude divina para com seus filhos e filhas. Deus, nome de pai e coração de mãe, é capaz de abraçar a miséria da condição humana, com todas as suas fraquezas, debilidades e até mesmo com seus pecados. Com isso, a fragilidade do ser humano reveste-se da graça e do amor divinos para “compor a própria história”, como diz a canção de Almir Sater. Porque – lembra o apóstolo Paulo – “quando sou fraco é então que sou forte” (2Cor 12,10).
Basta um rápido olhar para as páginas do Evangelho para dar-se conta que a prática evangelizadora de Jesus – sua – missão tem com ponto central a compaixão do Pai para com os doentes e os indefesos; os que sofrem e os que são marginalizados; os excluídos, os pequenos e os últimos. Duas ilustrações são suficientes para demonstrá-lo: a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) e a parábola do Filho Pródigo ou, justamente, do Pai Misericordioso, segundo alguns estudiosos (Lc 15,11-32). Ambas chegam até nós por meio de Lucas, o evangelista da misericórdia de Deus. Se, por um lado, no coração da mensagem evangélica está o Reino estão os pobres e abandonados.
O coração compassivo do Pai desdobra-se em obras de misericórdia no ministério público do Filho. Constata-se isso, por exemplo, no chamado programa de Jesus, extraído do profeta Isaías: “O espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou e me enviou para levar aos pobres a Boa Nova, proclamar a liberdade aos prisioneiros e aos cegos a vista; e para libertar os oprimidos e anunciar o ano da graça do Senho” (Lc 4,18-9). Ano da graça que não é outra senão o tempo de festa e de perdão do Jubileu!
O mesmo se pode dizer do resumo sobre as atividades do Mestre, no evangelista Mateus: “Jesus percorria as cidades e povoados, ensinava nas sinagogas, anunciava o evangelho e curava toda espécie de enfermidade. Ao ver as multidões cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor, teve compaixão” (Mt 9,35-38). Em síntese, a compaixão e a misericórdia movem o coração do Senhor para com o Povo de Israel, no Antigo Testamento; movem o coração de Jesus pelos caminhos da Galileia, e devem mover a ação pastoral de todo discípulo missionário.
Pe. Alfredo J. Gonçalvez, cs,
(missionário scalabriniano e vigário geral em Roma.)
Fonte: Boletim informativo SIM –
Serviço de Informação Missionária