A Vida Religiosa e o desafio do tempo presente

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Alguém disse certa vez que os consagrados e consagradas devem levar em uma de suas mãos a Bíblia e, na outra, um jornal. Retirando os possíveis exageros, essa afirmação-talvez atualizada com a inclusão das mídias digitais – alude a uma questão fundamental: consagrados e consagradas são chamados a testemunhar o Evangelho no tempo presente. Pode parecer algo óbvio fazer esta afirmação mas, muitas vezes, a vida consagrada pode sofrer a tentação de se refugiar num passado fictício de seguranças e ritos que pouco ou nada  se comunica com a atualidade, numa esquizofrênica negação do hoje, num infecundo anacronismo de saudades de coisas jamais vividas.
Diante dos desafios que se colocam a todo tempo, cabe aos consagrados buscar um discernimento capaz de atualizar o Evangelho nos dias atuais. Cada época possui suas urgências, alegrias e tristezas. Não escolhemos o tempo em que vivemos, mas somos convidados a fecundá-lo com a esperança que brota da mensagem evangélica. Em sentido cristão, o presente é sempre o tempo pleno, o tempo da Salvação, o tempo propício para a conversão, o kairós de Deus que “engravida” a história e aponta o real sentido do mistério de viver.
Na história da vida consagrada conhecemos inúmeros exemplos de homens e mulheres, fundadores ou reformadores, que tiveram o olhar aguçado para ler seu próprio tempo e para apontar corajosas iniciativas para tornar mais visível a presença de Deus na história. Liam o presente, traduziam o Evangelho e apontavam para o futuro como profetas do hoje e sentinelas do amanhã. O grande risco que sempre ronda a vida consagrada é o de contentar-se em narrar prodígios do passado, vidas de santos, desafios já superados e esquecer-se de seu real significado no aqui e agora, ou seja,  esquecer que deve ser tradutora do Evangelho para o mundo atual. Esse excesso pode gerar um culto a epopeias do passado. Em outro extremo, a negação do presente pode se dar um permanente desejo de um futuro que virá, lido positivamente ou catastroficamente. Nesse caso, o presente dá lugar ao culto imaginativo do tempo que virá. 
Hoje, cabe aos consagrados lembrarem aos mundo e a toda Igreja a presença sempiterna de um Deus que caminha com Seu povo, que conduz a história e que sempre fecunda nosso presente.
Frei Gilson Miuel Nunes, OFM Conv.
Fonte: Revista:O Mílite

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Projeto Antonia – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais.   

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