Terminado o “tempo natalino”, começamos hoje o “tempo comum”, ou seja, a vida pública de Jesus, sua missão como Filho em favor dos filhos.
O relato do batismo – que marca a passagem da vida em Nazaré para a vida peregrina – faz referência a uma experiência fundante de Jesus: confirmado pelo Pai, impulsionado pelo Espírito, Ele descobre o sentido de sua vida e a missão que devia realizar.
O batismo de Jesus implica uma profunda experiência espiritual, muito ligada à sua atitude humilde de aproximar-se do rio Jordão, onde as pessoas simples do povo buscam no batismo de João uma purificação de suas vidas. Jesus “desce” ao Jordão, gesto que condensa sua descida do céu à terra, sua “kénosis”, a radicalização de sua Encarnação. É uma “descida” às águas da humanidade. Nesse sentido, o batismo não é a prova da divindade de Jesus, mas a prova de uma verdadeira humanidade; Jesus “desce” ao Jordão, submerge na vida e na condição humana e ali faz a experiência de ser conduzido pelo Espírito em favor da humanização de todos.
O céu se abre e sobre a terra começa a caminhar um Homem cheio do Espírito. Esse Espírito que desce sobre Ele é sopro de Deus que cria vida, a força que renova e cura a humanidade ferida, o amor que transforma tudo. Sob o impulso do Espírito Jesus se dedica a libertar a vida, a curá-la e a fazê-la mais humana. Por isso, o grande protagonista da liturgia de hoje é o Espírito. A missão de Jesus não pode ser entendida a não ser pela experiência de deixar-se conduzir pelo mesmo Espírito.
No batismo, Jesus rompe com a “normalidade” de sua vida cotidiana e começa a ver tudo a partir de um horizonte mais amplo. Ele sente um chamado real a olhar a humanidade, com suas feridas e possibilidades, a partir da consciência de uma fraternidade ampla. Ao descer às margens do Jordão, Jesus desloca-se para as margens da humanidade, rompe fronteiras, abre os olhos a uma realidade mais ampla…
A festa do batismo de Jesus é uma ocasião especial para repensar nosso batismo, um convite permanente para relançar-nos em Sua aventura, de deixar-nos invadir pelo Seu Espírito, de comprometer-nos com Seu Reino.
Na vivência cristã, nosso maior risco é o esquecimento de Jesus e o descuido de seu Espírito. É preciso voltar às fontes, à raiz, recuperar o Evangelho em toda sua pureza e verdade, deixar-nos batizar pelo Espírito de Jesus. Se não nos deixamos reavivar e recriar por esse Espírito, nós cristãos não teremos nada importante a contribuir com a sociedade atual, tão vazia de interioridade, tão incapaz para o amor solidário e tão carente de esperança.
Oração: Lc. 3,15-16.21-22
Recordar (lembrar com o coração) aspectos da vida que precisam ser revistos para viver melhor o batismo.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
08.01.2013
Fonte: Centro Loyola
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